SAMARA VOLPONY - Poesias

Do amor transitório

Tarântulas

Certas palavras

Palavras secretas

Retrato anônimo


Sobre a autora: 
Samara Volpony é o pseudônimo de Samara Laís Silva, artista nascida em Arari/MA, à beira do rio Mearim, no dia 28 de agosto de 1990.
Idealizadora e organizadora do Sarau das Liras, o qual integra o conjunto de ações do Projeto de Ocupação Artística Palco Aberto. O evento acontece em espaços abertos agregando as mais variadas linguagens artísticas, em sua maioria, a música e a poesia. O mesmo, segue em 2016 para sua 5ª edição.
Coautora do livro Poesia Arariense: coletânea poética em rede. Vencedora do 4º Concurso Internacional Poesia Urbana, promovido pelo Centro Universitário de Brusque - UNIFEB. Autora do livro Contramaré (no prelo).

Samara Volpony

RETRATO ANÔNIMO

De quem é este rosto no retrato?
Estes olhos que nos olham tão saudosos
Estes lábios como os de quem mastiga o grito
Esta lembrança que retorna e que estanca?

De quem é este rosto no retrato,
Que sobre o cômodo empoeirado nos suspira
E miudamente range
E miudamente chora
O destino consumado?
Pergunto eu:
De quem é este rosto de madura senhora que nos visita?
Que cisma em permanecer no espelho, no retrato, na casa e na memória?
Juro ao tempo e à toda gente:
─ jamais vi tão bela senhora!

Foto desconhecido.

Samara Volpony

PALAVRA SECRETA

minha carne é um largo suspiro
onde abrigo uma dessas almas insanas, vária
e a pena de um corpo estranho a mim
sobre o peso dos meus calcanhares

minha palavra secreta destrói reinos
assombra os sãos

dolorida como nunca antes
penetra o grito armado
do meu verso rouco
que vaga por milhões de ouvidos moucos

― como convencerei os brutos do meu desespero?

só o meu verso é forte
duro e altivo
por ele sou poupada
pelo segundo
que me salva e justifica

Foto de autor desconhecido.

Samara Volpony

CERTAS PALAVRAS

certas palavras não devem ser ditas
estas palavras que vagam omissas
lindas e loucas no céu da tua boca
a ti somente guardo

fiadeira dos tempos
duram numa existência
como um grito anunciado à sorte

está na garganta dos rebeldes
rosnando no tempo entre
a vida e a morte

Foto de Anja Siegler.

Samara Volpony

TARÂNTULAS

meu estômago oco ronca vazios
não há dente que triture nem mandíbula
que suporte tão vil alimento

o útero seco chora a saudade do filho
que não vem
-não há raízes que me finquem
nesta terra deserdada
até as tarântulas mansamente
atravessem a rua e povoam o quarto
com sua cara de desdém.

eu, porém, inútil
entre teias que me fazem refém
guardo útero e estômago
que não tiveram a sorte que
as tarântulas têm.

Foto de autor desconhecido.