Joe Arthuso

LEMBRANÇAS DE BANHEIRO

Era um sábado cruel:
Desses com noites úmidas
e insípidas.
Observava as gotas de vapor
escorregando
pelas cerâmicas do banheiro
até o ralo
e tudo era raso,
tudo era branco
e frígido.
Lembrei do disco do Baden Powell
que você levou quando
saiu sem se despedir
naquela última noite.
- Que como essa, chovia. –
Escorreu
na lembrança
a marca de cigarro no aparador da sala,
o coração
pintado pelo sol
na vidraça da varanda,
o cheiro
de incenso das manhãs,
o seu trançar
de pernas:
Tatuagens de estrelas virando notas musicais,
fervendo meu sangue,
acordando os vulcões de meus desejos,
estouros,
arquejos matinais
e sinfonias de prazer.
O que eu sei
é que ninguém
teve mais
do que eu sei.

Foto de Robert Bejil.