Sylvia Plath

PARALÍTICO

Acontece. Será que continua? —
Minha mente uma pedra,
Sem dedos para segurar, sem língua,
Meu deus o pulmão de aço

Que me ama, bombeia
Dois sacos de poeira
Para dentro e para fora
Não vai

Me deixar piorar enquanto
Lá fora o dia desliza, eterno tique-taque.
A noite traz violetas,
Tapetes de olhos,

Luzes,
Vozes de veludo
Anônimas: — Tudo bem?
O peito duro, inatingível.

Ovo choco, deitado
Todo
Em todo um mundo que não posso tocar
No branco e tenso

Tambor do meu leito
Fotos vêm me visitar —
Minha mulher, morta e imóvel, estola anos 20
A boca repleta de pérolas

Duas meninas
Imóveis como ela, sussurram: — Somos suas filhas
lágrimas tranqüilas
Encobrem meus lábios,

Olhos, nariz e Ouvidos,
Celofane claro
Que não posso quebrar
Em minhas costas nuas.

Sorrio, um buda, todas
As necessidades, desejos
Caem em mim como anéis
Abraçando suas luzes.

A garra
Da magnólia
Por seu próprio aroma entorpecida
Não pede nada da vida.