Raquel Gaio

QUERIA

queria que só o seu cotovelo me bastasse
mas não
o dia naquele corpo parecia um ventrículo esgarçado
lambendo com certa gratidão os equívocos.

o corpo é o único que espera, sem saber.
os antebraços esvoaçam como um morcego paranoico
e nunca pousam.
é imprescindível que as coisas não se bastem.
olho para sua parede descascada e
me pergunto sobre a validade dos cadeados
tenho feito isso por diversos ângulos
todos alagados.
há um tiroteio na minha carne quando faço isso
e um muco quando não o faço
sou uma santa birrenta
subo em parapeitos em fogo alto
eu. o cotovelo. o dia
(antagonistas fragmentados)

sabes que não sei nenhuma reza
porque há sempre um mamífero rugindo no meu dia.

Foto de Laura Makabresku.