Suzy Shock

EU, POBRE MORTAL

Eu, pobre mortal, equidistante de tudo, eu RG 20.598.061. Eu, primeiro filho da mãe que depois fui velha aluno dessa escola dos suplícios. Amazona do meu desejo, cadela de guarda do meu sonho vermelho. Eu reivindico o meu direito de ser monstro, nem homem, nem mulher, nem XXY, nem H2O. Eu, monstro do meu desejo, carne de cada uma de minhas pinceladas, lenço azul do meu corpo, pintora do meu andar, não quero mais títulos para encaixar, não quero mais cargos, nem armários, nem o nome exato que me reserve nenhuma ciência. Eu, borboleta alheia à modernidade, à pós-modernidade, à normalidade...Oblíqua, Silvestre, Vesga, Artesanal, Poeta da barbárie, com o húmus do meu cantar, com o arco-íris do meu cantar, e com meu esvoaçar: reivindico o meu direito de ser um monstro e que os outros sejam o Normal. O Vaticano normal, o credo em Deus e a virgíssima normal, os pastores e o rebanho normal, o honorável congresso das leis do normal, o velho Larrouse do normal. Eu só levo as coisas que me iluminam, o rosto do meu olhar, o tato do escutado e o gesto vespa de beijar. E terei uma teta obscena da lua mais cachorra em minha cintura, e o pênis ereto das cotovias desobedientes e sete pintas, 77 pintas, o que eu estou falando: 777 pintas do meu endiabrado sinal de criar minha bela monstruosidade, meu exercício de inventora, de rameira dos pombos, me ser eu, me ser eu, entretanto parecido, entretanto domesticado, entretanto metido até os cabelos em algo, outro novo título para carregar, banheiro: de Damas? ou de Cavalheiros? ou novos cantos para inventar....Eu Trans...pirada, molhada, nauseabunda, germe da aurora encantada, a que não pede mais licença e está furiosa de luzes maias,luzes épicas, luzes párias, Menstruais Marlenes Bizarras sem Bíblias, sem tabelas, sem geografias, sem nada, só o meu direito vital de ser um monstro, ou como me chame, ou como me saia, como me possa o desejo e a fucking vontade do meu direito de explorar-me, de reinventar-me, fazer de minha mutação o meu nobre exercício, veranear-me, outonar-me, invernar-me, os hormônios, as idéias, os punhos, e toda a alma! Amém!